Amores Exilados

Romance dos Tempos da Ditadura

Resenha de Beatriz Resende

Beatriz Resende é crítica, pesquisadora, doutora em Literatura Comparada e Professora Titular de Poética do Departamento de Ciência da Literatura da Faculdade de Letras da UFRJ. 

   EXÍLIO COMO MODO DE VIDA IMPOSSÍVEL

      O exílio é mais do que uma dolorosa experiência de afastamento do país de origem, de exclusão provocada pelo autoritarismo, de não pertencimento causado por questões políticas. Exilados são afastados das raízes, dos costumes, de uma cultura. Para o exilado nada é seguro, tudo é provisório, mesmo nos mais longos exílios. O exílio é um caminho sem volta, mesmo quando o exilado volta.

     Em Amores Exilados (lançado originalmente em 1997 com o título Pedaço de santo), dois brasileiros vindos de regiões tão diferentes, como a Bahia de Lázaro e a Florianópolis de Fábio, o Catarina, forçados a deixar o país nos anos de chumbo do governo militar. dividem uma existência de desenraizados, distantes de família e amigos, com a francesa Muriel, espécie de autoexilada de seu passado no próprio país. Nos anos 1970, o fervilhar político francês contrasta com a opressão no Brasil, que vai se tornando distante, impossível. De algum modo, porém, a perda e a expropriação encontram consolo nas ruas, bares e outros espaços por onde os jovens circulam, cruzando com outros companheiros obrigados pelo arbítrio ou pela falta de perspectivas a deixar seus países. É o momento em que as configurações nacionais começam a se alterar e o socialismo real a falir.

     Ao mesmo tempo, a juvenilidade e o sensualismo que atravessam a narrativa de Godofredo de Oliveira Neto tornam o romance não só o depoimento de uma época, mas uma narrativa de seduções: da cidade, de ideias e, sobretudo, de Muriel Melusina.

     Mas a condição de exilado, o não pertencimento e a privação marcam de forma indelével, colam no corpo e na alma. O exilado é exilado para sempre, ainda que tente escapar dessa condição. A solidariedade tem limites. o desassossego ou a paranoia, não. Fantasmas do passado, de torturas de tipos diversos, atravessam e impossibilitam o presente. Voltar ou não ao país natal parece ser uma escolha falaciosa. Talvez o país na verdade não exista, ou sua realidade seja crua demais. Para o exilado, no entanto, não há opção: seja qual for a razão do exílio, o afastamento é intolerável.

                           Nisso se igualam os exilados da pátria ou do amor.


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